Devia ser a noite mais fria de sempre, mas Hades não reparava nisso. O sangue que circulava nas suas veias era frio e insensível. Não tinha coração. Era transportado pelo barqueiro do sub-mundo até à outra margem. As almas suplicavam por liberdade, mas ele repelia-as. Pensava no domínio do Olimpo, que não haveria de tardar: - "Só mais seis meses..." - pensou - "...e estarei no pódio. Ver o meu querido irmãozinho a perder as forças...mal posso esperar...".
O barqueiro parou, encostando o barco à margem. Hades levantou-se e saiu. Estava tão escuro, que somente o seu cabelo de um azul flamejante iluminava o caminho. Sentou-se numa cadeira de fumo negro e suspirou. Precisava de algo.
- Agonia! Pânico!
Pânico e Agonia ouviram o som aterrador da voz do seu mestre a chamar. Rapidamente subiram as escadas que iam do rio da Morte até ao lugar onde Hades estava. Um pouco aterrorizados entraram no seu aposento.
- Agonia e Pânico apresentam-se ao serviço, senhor...
- Já encontraram alguma coisa, que possa ajudar-me a destruir o Rapaz Maravilha (Hércules) ?
- Encontramos isto! - disseram os dois sorridentes e mostrando uma gaiola com Iago lá dentro preso pelo bico, emitindo sons estranhos e com cara má.
- Mas o que raios é isso, seus parvalhões? - perguntou Hades olhando desconfiado para Iago.
- É um passarinho, cremos nós...
-E PARA QUE É QUE QUEREM O RAIO DO PÁSSARO?!
- Bem... É o passarinho do Jafar e pede bolachas...
- Crá! Louro quer bolacha, Louro quer bolacha...
Hades massajou as têmporas tentando-se acalmar... O que é que poderia fazer com uma ave oca que só pedia bolachas? Necessitava de controlar o Olimpo e aqueles seus servos idiotas que nem um bebé conseguiam matar, estavam, ironicamente, a tentar matar um homem. A não ser que... Jafar queria dominar o reino do Sultão, será que aceitaria parcerias?!
Jafar estava no palácio do Sultão, procurando por Iago.
- IAGO!! Onde se meteu o idiota do pássaro, quando mais se precisa dele? - enquanto Jafar pensava para com os seus botões, o sultão apareceu por trás.
- Algum problema, Jafar? Preciso de ti para ajudares-me numa proposta que recebi...
- Raio do velho - disse entre dentes Jafar - Se não se importa sua Majestade, tenho uma assunto pendente a resolver....
Jafar deixou o Sultão para trás e foi até ao seu esconderijo secreto. Fechou a porta e olhou em redor... Viu então um portal negro mesmo no meio da sala.
- Hades! - Jafar ajeitou o seu turbante e atravessou o portal indo parar ao sub-mundo.
- Sim, Jafar, sou eu. Há quanto tempo.
Jafar estava visivelmente espantado. Conhecera Hades havia muito tempo. Ainda eram ambos jovens. Jafar tinha ido estudar para a Grécia. Lembrava-se daquele rapaz estranho com fogo na cabeça, que mudava de cor consoante a sua disposição. Haviam sido bons amigos, enquanto colegas. Mas agora, vê-lo adulto, ali, à sua frente era estranho.
- Credo, Jafar, anima-te, meu velho. Estamos ambos prestes a conquistar o Mundo. - Riu-se maliciosamente.
- Não percebo que queres dizer. - Jafar continuava atónito.
- Credo, os ares do deserto fizeram-te mal! Parece que os teus neurónios se estão a tornar lentamente areia. - gozou Hades - Como te estava a dizer -Crá Louro quer bolacha! - o que nós vamos fazer - CRÁ LOURO... - é o seguin.. - BOLACHA! CRÁ.
Foi a gota de água, o cabelo de Hades tornou-se vermelho vivo:
-CALA-TE MALDITO PAPAGAIO - gritou ele lançando um frasco com uma poção de um azul duvidoso à cabeça de Iago.
Jafar estava agora verdadeiramente fulo com Hades, em primeiro lugar estava a perder o seu precioso tempo que deveria estar a dedicar ao seu plano, depois já tinha sido chamado de burro descaradamente e agora Hades estava a tentar matar o seu papagaio? Perdido em pensamentos, Jafar nem notou que Iago estava coberto de sangue na cabeça pois o frasco partira-se com o choque, Agonia e Pânico rodeavam-no verificando se ele estava bem, não por simpatia mas por medo da reacção do dono.
- Ufa finalmente, o pássaro calou-se de vez - Hades frisou bem as últimas duas palavras - Agora sim, como te estava a dizer o meu plano consiste no seguinte: - Quem é que se calou de vez?!
Os dois vilões voltaram-se para trás, não podia ser! Aquele seria realmente quem eles estavam a pensar?
-Oh raios! A poção! - exclamou Hades

*

- Abu, tem mais cuidado!
Na cidade de Agrabah, o macaquinho Abu roubava uma grande melancia, que entretanto deixara cair.
- Foi uma sorte, eu ter apanhado isto. - comentou Alladin, triunfante.
Abu cruzou os braços e meteu-se a um canto, amuado. Alladin partiu a melancia em dois e ajeitou-se no telhado onde estavam ambos sentados, por cima da mercearia. Olhou para Abu.
- Toma lá, Abu. Mas para a próxima tem mais cuidado.
Quando o macaco ia pegar no seu desejado almoço, eis que eles os vêem: umas estranhas tropas fardadas com trajes ingleses, e um agitado cão cinzento suportado numa almofada.
"Quem serão aqueles?" perguntou-se Aladdin. "Ingleses... Se calhar vêm visitar o Sultão em negócios."
Os ingleses entraram no palácio elegantemente e os criados fecharam as grandes portas a seguir à sua passagem. Quando entraram na sala do trono, o Sultão brincava com os seus animaizinhos tentando fazer com que os mesmos se equilibrassem.
"Vossa Majestade..." murmurou Radclife curvando-se respeitosamente. "Sou um governador e peço-vos me dê deferência para a minha exploração do mundo em honra de vós."
"Em minha honra? Oh! Que delicioso! Mas para que é que necessita de explorar o mundo?!"
"Montanhas de oiro esperam por mim e por vós... Vós necessitais do ouro, não é?! E para além disso, necessitais do meu silêncio... De certeza que vós não quereis que eu abra a boca e desvende vosso grande segredo, não é verdade?" ameaçou maliciosamente.
O Sultão não percebeu esta mensagem de Radcliffe. "Ingleses...", pensou ele.
- Que se passa, pai? - perguntou Jasmine, com o pente nas mãos.
- O quê? Oh, oh, são ingleses, minha filha, e estão a explorar o mundo! - disse alegremente o sultão.
Radcliffe ficou a olhar para do Sultão para a princesa por momentos. De repente, teve uma ideia.
- Vossa magestade, se me permite, poderiamos nós passar aqui a noite? É que tivemos de atravessar o deserto inteiro, sabe?
- Ai atravessámos? - questionou-se Wiggings. Em resposta, Percy mordeu-lhe a mão.
"Penso que não haja qualquer tipo de problema. Eu até gosto que hajam visitas. Divertem-me mesmo muito!" cantarolou o Sultão. Jasmine arqueou o sobreolho desconfiada. Não gostava nada do aspecto daquele homem barrigudo. E tinha a certeza que não poderia vir dali grande coisa.
"Sim, podem cá ficar..." disse pensativa.
"Excelente!" desabafou Radcliffe com plena satisfação "Vou buscar os meus pertences!" e desapareceu do palácio com um sorriso sombrio, murmurando para si próprio: "Ouvi dizer que o Jafar e o Hades planeavam algo em grande! Amanhã falo com o Jafar e o Iago..."
O dia nasceu quente e seco, tal e qual como num deserto. De facto, eles estavam perto de um deserto. No entanto, Radcliffe anseava mais a vinda do conselheiro do Sultão do que de um copo de água...
- Meu caro Sultão! Como passais hoje? Desejais uma bebida fresca?
- Já ia uma, sim. - desabafou o Sultão a Radcliffe, morto de calor. - Por acaso não viu o meu vizir-real, Jafar?
- O quê? Diga? - Radcliffe interessou-se. - Jafar? Oh, não, mas posso ir chamá-lo.
- Chamou-me, Sultão? - indagou Jafar, aparecendo com Iago empoleirado no seu ombro. - Posso ajudá-lo, comandante? - dirigiu-se a Radcliffe.
Este lançou-lhe um olhar de escárnio.
- Na verdade...poderia-me ajudar numa coisa...
- O que é, então?
- O diamante em bruto... - sussurrou-lhe Radcliffe.

*

Muito distante daqui, na Grécia antiga,